Thursday, April 29, 2010

o poeta desligou o rádio

o poeta desligou o radio
pássaros não cantavam
ali parado
no jardim abandonado
os pássaros desconfiam
de tudo
os pássaros são muito desconfiados
em um jardim devastado
uma grama alta
esconde insetos maravilhados

enquanto o mundo discorre mentiras
os aviões em transito
as roupas intimas balançam por dentro
velhos marinheiros
índios velhos
peões do estradão
vêm morrendo

talos de dentes de leão
quem irá decifrá-los?

há uma quietude na estrada
não existe mais nenhum oeste selvagem
mas os selvagens existem
há uma quietude nos olhos da japonesa
uma quietude no calçadão
na solitária visão
dos ambulantes
cabelos longos dançam
por entre os feirantes
aos ventos de todos os lados
frutas no chão
"o despertar dos mágicos"
"o apanhador nos campos de centeio"
frutas no chão.
arriscando bruxarias
muitos apostam nas loterias
morador de uma casa abandonada
acompanha o voo das gralhas azuis
uma grama pra dormir
um lugar pra acordar.
meninos são iguais
devorando macarrão
nos trevos das avenidas
nos pés das galinhas
que nunca dormem
na estrada
nas canoas
no gramado entre as árvores
entre os sapos e milhares de grilos
entre a sola e as palmilhas
em algum lugar longínquo
o poeta está a olho nu
meditando com as vacas
porque as vacas sim sabem meditar
o poeta se vira
cai fora da aeronave
junto com sua sombra
que ele pode apanhar no chão
agora há um silencio na estrada
ele entra na estrada
sem malas
no coração sangue e silencio
ele age como um deus
rebelde e insolente
agitando o puro desejo
que "os sentidos sejam a crítica da razão"